O Espírito Santo no Antigo Testamento

Entendendo o Espírito Santo no Antigo Testamento.

Entendendo o Espírito Santo no Antigo Testamento.

O Espírito Santo é revelado no Antigo Testamento de três maneiras: primeira, como Espírito criador ou cósmico, por cujo poder o universo e todos os seres foram criados; segunda, como o Espírito dinâmico ou doador de poder; terceira, como Espírito regenerador, pelo qual a natureza humana é transformada. 

1. Espírito criador
O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade por cujo poder o universo foi criado. Ele pairava por sobre a face das águas e participou da glória da criação. (Gên. 1:2; Jo 26:13; Sal. 33:6; 104:30.) O Dr. Denio escreve: O Espírito Santo, como Divindade inseparável em toda a criação, manifesta sua presença pelo que chamamos as leis da natureza. Ele é o princípio da ordem e da vida, o poder organizador da natureza criada. Todas as forças da natureza são apenas evidências da presença e operação do Espírito de Deus. As forças mecânicas, a ação química, a vida orgânica nas plantas e nos animais, a energia relativa à ação nervosa a inteligência e a conduta moral são apenas evidências da imanência de Deus, da qual o Espírito Santo é o agente. O Espírito Santo criou e sustenta o homem. (Gên. 2:7; Jo 33:4.) 

Toda pessoa, seja ou não servo de Deus, é sustentada pelo poder criador do Espírito de Deus. (Dan. 5:23; Atos 17:28.) A existência do homem é como o som da tecla do harmônio que dura tão-somente enquanto o dedo do artista a comprime. O homem deve a sua existência e a continuação desta às "duas mãos de Deus", isto é, o Verbo (João 1:1-3), e o Espírito. Foi a esses que Deus se dirigiu dizendo: "Façamos o homem." 

2. Espírito dinâmico que produz
O Espírito Criador criou o homem a fim de formar uma sociedade governada por Deus; em outras palavras, o reino de Deus. Depois que entrou o pecado e a sociedade humana foi organizada à parte de Deus e em oposição à sua pessoa, Deus começou de novo ao chamar o povo de Israel, organizando-o sob suas leis, e assim constituindo-o como reino de Jeová . (2 Crôn. 13:8.) Ao estudar a história de Israel lemos que o Espírito Santo inspirou certos homens para governar e guiar os membros desse reino e para dirigir seu progresso na vida de consagração. A operação dinâmica do Espírito criou duas classes de ministros: primeira, obreiros para Deus — homens de ação, organizadores, executivos; segunda, locutores para Deus — profetas e mestres. 

(a) Obreiros para Deus. Como exemplos de obreiros inspirados pelo Espírito, mencionamos Josué (Num. 27:8-21); Otoniel (Juízes 3:9-10; José (Gên.41:38-40); Bezaleel (Êxo. 35:30-31); Moisés (Num. 11:16,17); Gideão (Jui. 6:34), Jefté (Jui 11:29); Sansão (Jui. 13:24,25); Saul (1 Sam. 10:6). É muito provável que, à luz desses exemplos, os dirigentes da igreja primitiva insistissem em que aqueles que serviam às mesas deviam ser cheios do Espírito Santo (Atos 6:3). 

(b) Locutores de Deus. O profeta de Israel, podemos dizer, era um locutor de Deus — um que recebia mensagens de Deus e as entregava ao povo. Ele estava cônscio do poder celestial que descia sobre ele de tempos em tempos capacitando-o para pronunciar mensagens não concebidas por sua própria mente, característica que o distinguia dos falsos profetas. (Ezeq. 13:2.) A palavra "profeta" indica inspiração, originada duma palavra que significa "borbulhar" — um testemunho à eloqüência torrencial que muitas vezes manava dos lábios dos profetas. (Vide João 7:38.) 

1) As expressões empregadas para descrever a maneira como lhes chegava a inspiração mostram que essa inspiração era repentina e de modo sobrenatural. Ao referirem-se à origem de seu poder, os profetas diziam que Deus "derramou" seu Espírito, "pôs seu Espírito sobre eles", "deu" seu Espírito, "encheu-os do seu Espírito", e "pôs seu Espírito" dentro deles. Descreveram a variedade de influência, declaram que o Espírito "estava sobre eles", "descansava sobre eles", e os "tomava". Para indicar a influência exercida sobre eles, diziam que estavam "cheios do Espírito", "movidos" pelo Espírito, "tomados" pelo Espírito, e que o Espírito falava por meio deles. 

2) Quando um profeta profetizava, às vezes estava em estado conhecido como "êxtase" — estado pelo qual a pessoa fica elevada acima da percepção comum e introduzida num domínio espiritual, no domínio profético. Ezequiel disse: "A mão do Senhor (o poder do Senhor Deus) caiu sobre mim ... e o Espírito me levantou entre a terra e o céu, e me trouxe a Jerusalém em visões de Deus" (Ezeq. 8:1-3). É muito provável que Isaias estivesse nessa condição quando viu a glória de Jeová (Isa. 6). João o apóstolo declara que foi "arrebatado em espírito no dia do Senhor" (Apo.?. Vide Atos 22:17.) As expressões usadas para descrever a inspiração e o êxtase dos profetas são semelhantes àquelas que descrevem a experiência do Novo Testamento de "ser cheio" ou "batizado" com o Espírito. (Vide o livro de Atos.) Parece que nessa experiência o Espírito tem um impacto tão direto sobre o espírito humano, que a pessoa fica como que arrebatada a uma experiência na qual pronuncia uma linguagem extática. 

3) Os profetas nem sempre profetizavam em estado extático; a expressão "veio a Palavra do Senhor" dá a entender que a revelação veio por uma iluminação sobrenatural da mente. A mensagem divina pode ser recebida e entregue em qualquer das duas maneiras. 

4) O profeta não exercia o dom à sua discrição; a profecia não foi produzida "por vontade de homem" (2 Ped. 1:21). Jeremias disse que não sabia que o povo estava maquinando contra ele (Jer. 11:19). Os profetas nunca supuseram, nem tampouco os israelitas jamais creram, que o poder profético fosse privilégio de algum homem como dom permanente e sem interrupção para ser usado à sua própria vontade. Entenderam que o Espírito era um agente pessoal e, portanto, a inspiração era proveniente da soberana vontade de Deus. Os profetas podiam, porém, pôr-se numa condição de receptividade ao Espírito (2 Reis 3:15), e em tempos de crise podiam pedir direção a Deus. 

3. Espírito regenerador
Consideraremos as seguintes verdades relativas ao Espírito regenerador. Sua presença é registrada no Antigo Testamento, porém não é acentuada; seu derramamento é descrito, principalmente como uma bênção futura, em conexão com a vinda do Messias; e mostra características distintas. 

(a) Operativo mas não acentuado. O Espírito Santo no Antigo Testamento é descrito como associado à transformação da natureza humana. Em Isa. 63:10,11 faz-se referência ao êxodo e à vida no deserto. Quando o profeta diz que Israel contristou o seu santo Espírito, ou quando se diz que deu seu "bom Espírito" para os instruir (Nee. 9:20), refere-se ao Espírito como quem inspira a bondade. (Vide Sal. 143:10.) Davi reconhecia o Espírito como presente em toda a parte, aquele que esquadrinha os caminhos dos homens, e revela, à luz de Deus, os esconderijos mais escuros de suas vidas. Depois de cometer seu grande pecado, Davi orou para que o Espírito Santo de Deus, a Presença santificadora de Deus, aquele Espírito que influencia o caráter, não lhe fosse tirado (Sal. 51:11). Esse aspecto, porém, da obra do Espírito não é acentuado no Antigo Testamento. O nome Espírito Santo ocorre somente três vezes no Antigo Testamento, mas oitenta e seis no Novo, sugerindo que no Antigo Testamento a ênfase está sobre operações dinâmicas do Espírito, enquanto no Novo Testamento a ênfase está sobre o seu poder santificador. 

(b) Sua concessão representa uma bênção futura. O derramamento geral do Espírito como fonte de santidade é mencionado como acontecimento do futuro, uma das bênçãos do prometido reino de Deus. Em Israel o Espírito de Deus era dado a certos lideres escolhidos, e indubitavelmente quando havia verdadeira piedade, tal se devia à obra do seu Espírito. Mas em geral, a massa do povo inclinava-se para o paganismo e para a iniqüidade. Embora de tempos em tempos fossem reavivados pelo ministério de profetas e reis piedosos, era evidente que a nação era má de coração e que era necessário um derramamento geral do Espírito para que voltassem a Deus. Tal derramamento foi predito pelos profetas, que falaram que o Espírito Santo seria derramado sobre o povo numa medida sem precedentes. Jeová purificaria os corações do povo, poria seu Espírito dentro deles, e escreveria a sua lei em seu interior. (Ezeq. 36:25-29; Jer. 31:34.) Nesses dias o Espírito seria derramado com poder sobre toda a carne (Joel 2:28), isto é, sobre toda a classe e condição de homens, sem distinção de idade, sexo e posição. A oração de Moisés de que "todo o povo do Senhor fosse profeta" seria então cumprida (Num. 11:29). Como resultado, muitos seriam convertidos, porque "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Joel 2:32). A característica que distinguia o povo de Deus sob a velha dispensação era a possessão e revelação da lei de Deus; a característica que distingue seu povo sob a nova dispensação é a escrita da lei e a morada do Espírito em seus corações. 

(c) Em conexão com a vinda do Messias, o grande derramamento do Espírito Santo teria por ponto culminante a Pessoa do Messias-Rei, sobre o qual o Espírito de Jeová repousaria permanentemente na qualidade de Espírito de sabedoria e entendimento, de conhecimento e temor santo, conselho e poder. Ele seria o Profeta perfeito que proclamaria as Boas-Novas de libertação, de cura divina, de consolo e de gozo. Qual é a conexão entre esses dois grandes eventos proféticos? Será a vinda do Ungido e a efusão universal do Espírito Santo? João Batista respondeu quando interrogado: "Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem apos mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo." Em outras palavras, o Messias é o Doador do Espírito Santo. Foi isso que o assinalou como o Messias ou o Fundador do Reino de Deus. A grande bênção da nova época seria o derramamento do Espírito e foi o mais elevado privilégio do Messias, o de conceder o Espírito. Durante seu ministério terrestre Cristo falou do Espírito como o melhor dom do Pai (Luc. 11:13); ele convidou os sedentos espiritualmente a virem beber, oferecendo-lhes abundante abastecimento da água da vida; em seus discursos de despedida prometeu enviar o Consolador a seus discípulos. Notem especialmente a conexão do dom com a obra redentora de Cristo. A concessão do Espírito está associada com a partida de Cristo (João 16:7) e sua glorificação (João 7:39), o que implica sua morte (João 12: 23, 24; 13:31, 33; Luc.24:49). Paulo claramente declara essa conexão em Gál. 3:13,14; 4:4-6 e Efés. 1:3, 7:13, 14. 

(d) Exibindo características especiais. Talvez este seja o lugar de inquirir acerca do significado da declaração: "porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado". João certamente não queria dizer que nos tempos do Antigo Testamento ninguém haja experimentado manifestações do Espírito; todo judeu sabia que as poderosas obras dos dirigentes de Israel e as mensagens dos profetas eram provenientes das operações do Espírito de Deus. Evidentemente ele se refere a certos aspectos da obra do Espírito que não eram conhecidos nas dispensações anteriores. Quais são, então, as características distintas da obra do Espírito na presente dispensasão? 

1) O Espírito ainda não havia sido dado como o Espírito do Cristo crucificado e glorificado. Essa missão do Espírito não podia iniciar-se enquanto a missão do Filho não terminasse; Jesus não podia manifestar-se no Espírito enquanto estivesse em carne. O dom do Espírito não podia ser reivindicado por ele a favor dos homens enquanto ele não assumisse sua posição de Advogado dos homens na presença de Deus. Quando Jesus falou, ainda não havia no mundo uma força espiritual como a que foi inaugurada no dia de Pentecoste e que posteriormente cobriu toda a terra como uma grande enchente. Porque Jesus ainda não havia subido aonde estivera antes da encarnação (João 6:62), e ainda não estivera com o Pai (João 16:7; 20:17), não podia haver uma presença espiritual universal antes que fosse retirada a presença na carne, e o Filho do homem fosse coroado na sua exaltação à destra de Deus. O Espírito foi guardado nas mãos de Deus aguardando esse derramamento geral, até que o Cristo vitorioso o reivindicasse a favor da humanidade.

2) Nos tempos do Antigo Testamento o Espírito não era dado universalmente, mas, de modo geral limitado a Israel, e concedido segundo a soberana vontade de Deus a certos indivíduos, como sejam: profetas, sacerdotes, reis e outros obreiros em seu reino. Mas na presente época ou dispensação o Espírito está ao dispor de todos, sem distinção de idade, sexo ou raça. Nesta relação nota-se que o Antigo Testamento raramente se refere ao Espírito de Deus pela breve designação "o Espírito". Lemos acerca do "Espírito de Jeová " ou "Espírito de Deus". Mas no Novo Testamento o título breve o "Espírito" ocorre com muita freqüência, sugerindo que suas operações já não são manifestações isoladas, mas acontecimentos comuns. 

3) Alguns eruditos crêem que a concessão do Espírito nos tempos do Antigo Testamento não envolve a morada ou permanência do Espírito, que é característica do dom nos tempos do Novo Testamento. Eles explicam que a palavra "dom", implica possessão e permanência, e que nesse sentido não havia Dom do Espírito no Antigo Testamento. É certo que João Batista foi cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe e isso implica uma unção permanente. Talvez esse e outros casos semelhantes poderiam ser considerados como exceções à regra geral. Por exemplo, quando Enoque e Elias foram transladados, foram exceções à regra geral do Antigo Testamento, isto é, a entrada na presença de Deus era por meio do túmulo e do Seol (o reino dos espíritos desencarnados).

Trecho retirado do Livro: Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - Myer Pearlman
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Autor: Jorge A. Ferreira

Presbítero da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, Bacharel em Teologia, Articulista da Revista (O Cristão Erudito), Diretor e Palestrante do Seminário À Luz da Bíblia e Professor de Teologia.

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